Apoiar os estudantes estagiários como investigadores da sua prática orientada para uma Educação Física Inclusiva (PST-PRIPE)
A lei educacional portuguesa (DL54/2018) estipula políticas obrigatórias alinhadas com a educação inclusiva impulsionada pela Declaração de Salamanca (1994). As Diretrizes da UNESCO (2015) para uma Educação Física de Qualidade (EFQ) destacam o potencial inclusivo da EF, focado em permitir o acesso, a participação e a aprendizagem nas áreas de literacia física e cidadania, desempenho académico, inclusão social, igualdade de género, saúde e bem-estar. Para explorar o potencial da EFQ, é necessário garantir o devido lugar da EF no currículo, encorajar abordagens inclusivas e inovadoras e investir na formação de professores e no desenvolvimento profissional. Proporcionar EFQ inclusiva requer olhar para a diversidade não como um obstáculo, mas como um desafio para a organização e alinhamento do currículo, pedagogia e avaliação (Kirk, 2020; Penney et al., 2018). Cumprir os preceitos de inclusão das políticas governamentais (Alves, 2019a, 2019b) e aplicar os princípios da EFQ constituem um grande desafio para a EF e demais sistema educativo (MacPhail & Lawson, 2020). A sustentabilidade das práticas inclusivas exige uma atitude positiva face à diversidade, de valorização e crença na aprendizagem social e de confiança e competência para garantir acesso, participação e aprendizagem a todos os alunos (Ainscow, 2005; Cast, 2018). Os professores precisam de sentir os benefícios das práticas inclusivas através de treino, apoio da escola e assistência da universidade em programas de formação inicial e contínua orientados para a inclusão (Batista, 2020; Korthagen, Loughran, & Russell, 2006; MacPhail & Lawson, 2020; Penney et al., 2018; Rouse & Florian, 2012).
Apesar dos esforços das unidades curriculares de pedagogia e didática para mudar a EF no sentido de participação e aprendizagens significativas, os estudantes estagiários (EE) continuam a não estar preparados para resolver problemas de marginalização, exclusão e insucesso (Fisette, 2013; Graça, 2015; Kirk, 2020). A universidade e as escolas precisam de dar atenção ao hiato comunicacional (Nóvoa, 2012; Zeichner, Payne, & Brayko, 2014), trabalhando conjuntamente na mudança de perspetivas e práticas dos EE altamente centradas no professor, abordagens de multiatividades e habilidades técnicas, como resultado da aprendizagem por observação e da necessidade de controlarem o comportamentos dos alunos, em direção a um currículo, ensino e avaliação de EF centrado nos alunos, que dê resposta às barreiras da diversidade e inclusão (Amaral-da-Cunha et al., 2019; Amaral-da-Cunha et al., 2018; Batista, 2020; Batista & Moura, 2019; MacPhail & Lawson, 2020; Teixeira, Batista, & Graça, 2016).
Este estudo de investigação-ação participativa, enquadrado no scaffolding de uma comunidade de prática (CoP), composta por professores formadores (universidade e escola) visa explorar como é que EE de EF aprendem e ganham entendimento do modo como as práticas inclusivas podem ser orquestradas para atender ao potencial, expectativas e necessidades dos diferentes alunos. A investigação é norteada por três questões de investigação: 1) quais os desafios e dificuldades que os EE enfrentam para lidar com a diversidade dos alunos?; 2) Como é que os EE desenham, desenvolvem e refletem sobre as suas práticas para criar ambientes de aprendizagem inclusivos?; 3) Que ganhos é que os alunos obtêm em termos de acesso, participação e aprendizagem em EF? O projeto dura 18 meses, numa parceria entre a Faculdade de Desporto e quatro escolas cooperantes, que incluem quatro fases; 1) construção das fundações da CoP de formação de professores para práticas inclusivas; 2) diagnóstico da diversidade dos alunos e preparação dos EE para questionarem as suas práticas para a inclusão; 3) desenvolvimento de práticas inclusivas; 4) análise e reflexão global pós-intervenção. O estudo inclui formadores de professores (universidade e escola), EE e alunos.
A estrutura teórica das arquiteturas de prática de Kemmis et al. (2014) será usada para focar a análise nas experiências e interpretações oriundas das práticas cada escola. Serão considerados três níveis analíticos interconectados, o subjetivo (experiências pessoais dos alunos e EE), o intersubjetivo (interação dinâmica da CoP com os EE) e o nível de arquitetura da prática (consonância da prática de ensino inclusivo). A credibilidade da análise qualitativa dos dados recolhidos será sustentada pela ratificação de temas emergentes reportados aos três níveis da arquitetura da prática através da triangulação de fontes de dados e métodos, procura ativa de evidência negativa, interpretação dos investigadores e auscultação de participantes. Podem ainda ser usados métodos quantitativos, em função dos estudos dos EE. Com este estudo exploratório, esperamos aprender sobre as barreiras críticas e possíveis caminhos para elevar a EF, o ensino inclusivo e a formação de professores. As evidências e as lições extraídas da investigação tentarão fazer avançar o esforço de educação inclusiva nas comunidades académica e profissional.